Quem vai querer me ler?
Eu me pergunto isso desde que comecei a escrever fanfics, lá por volta dos 11 anos de idade.
Independente do que escrevo — se poesia, música, contos, fanfics ou lista de supermercado —, eu questiono sobre quem vai querer me ler. Nem sempre associado a ideia de que "este texto não está bom o suficiente" ou "o que as pessoas irão achar sobre mim quando lerem", embora isso também ocorra.
Mas o que prevalece é "quem vai perder seu tempo lendo algo que escrevi?", afinal de contas, tempo é dinheiro. Não digo dinheiro em reais ou dólares, mas o tempo como uma moeda de troca. Sabemos que temos que investir ele muito bem, aproveitar o máximo possível.
É sempre essa ideia de que o tempo é finito — e ele realmente é —, mas somos adestrados a ver essa finitude não como um limite, mas um desafio: quantas coisas úteis você consegue fazer com todo esse tempo que te deram? Porém, vou deixar o aprofundamento dessa questão e suas ramificações (como o burnout) para outra hora, para outro texto.
Eu fico aterrorizada com a ideia de perder o tempo dos outros e, por isso, desisto de começar textos, terminar histórias, publicar coisas. Afinal, quem vai querer desperdiçar seu tempo lendo algo que eu escrevi?
Em 2019, comecei a ter contato com algumas newsletters e, desde então, fui fomentando a ideia de criar uma também. Pensei em assuntos que poderia falar, coisas que queria dizer, opiniões que tinha para dar, mas um breve rolar da timeline de qualquer rede social me fazia desistir: já tem gente demais falando sobre este assunto, já tem opiniões demais sobre aquele outro. É uma multidão de vozes constantemente se sobrepondo, criando ecos, gritando, sussurrando, esbravejando... Uma verdadeira cacofonia.
E, muitas vezes, falar qualquer coisa nesses locais parece só adicionar ao barulho ao invés de criar alguma comunicação efetiva. Lembra muito aquele sentimento de ir a uma festa com música muito alta, onde você não consegue reparar qual música está tocando e as pessoas gritam pra serem ouvidas, mas no fim tudo se torna um grande telefone sem fio.
(E aqui deixo um parenteses, pois às vezes eu penso: será que as ágoras da Grécia eram assim também? Uma enorme aba de comentários a céu livre?)
Por isso, cansada de adicionar a este barulho, fiquei mais quieta por um bom tempo.
Sai de quase todos os grupos do whatsapp (e raramente olho os que ainda estou). Não uso as redes sociais com muito afinco e às vezes as esqueço por semanas. Não estava escrevendo muito — quase nada na verdade. E nem tinha criado esta newsletter.
Por um lado, isso teve um resultado excelente sobre a minha ansiedade. Por outro, me fez começar remoer o silêncio e pensar que eu deveria estar falando e opinando e sabendo de tudo que acontece. Provando que não se pode vencer com a ansiedade.
Então, para apaziguá-la, decidi que o melhor a fazer seria controlar o quanto desse barulho chegava até mim. O que me fez engajar mais e mais com as newslettes — tanto as novas descobertas quanto as edições antigas que estavam há meses ou anos como não lidas na minha caixa de mensagem. E a ideia de criar a minha própria estava sempre lá, se revirando, indo e vindo como a maré.
Com isso em mente, ano passado eu decidi fazer o curso da Aline Valek, em que ela fala sobre processo criativo através da criação e manutenção de uma newsletter (inclusive, a dela foi a primeira que eu assinei e acompanho até hoje). Fiquei super empolgada e vi metade do curso de uma vez. O que se seguiu de nove meses sem nem abrir o curso antes até conclui-lo.
Em junho deste ano, li esta newsletter da Vanessa Guedes, que pareceu tocar minhas feridas:
“Muitas vezes nós deixamos de escrever para não disparar esses gatilhos: e se eu falar besteira? E se eu for cancelada? E se, no fundo, eu não entender nada do que estou falando? E se não gostarem do que escrevi? Ou pior: e se ninguém ler?”
Como você pode ver, foram muitas coisas nesse processo, não só de criar esta newsletter, mas de escrever e se deixar ser lida. Como se escrever fosse uma necessidade básica, mas também uma forma punição. É complicado de explicar.
Assim, após ruminar por anos, finalmente decidi criar esta newsletter. Decidi também a não dar muitas opinões sobre “a treta do dia” (para ler isso você já tem a sua timeline). Decidi fazer textos sobre qualquer coisa que der na telha, afinal, esses textos irão chegar até as pesssoas apenas quando e se elas quiserem, o que diminui o risco de me fazer perder o tempo de alguém.
Desta forma, quem escolher me ler vai poder controlar o volume do barulho também. Não importa se você só vai vir aqui de vez em quando, se vai ler assim que chegar um e-mail ou se vai esquecê-lo na caixa de entrada por uns anos. Do jeito que você escolher, eu te agradeço por querer perder seu tempo comigo! <3
Até a próxima edição!
J. Venegas Álvares
PS: a eleição é neste domingo, já preparem os títulos, confiram o endereço da sua sessão e votem bem para votar sempre!
Já ansioso pelos próximos textos! Espero que dê muitas coisas nessa telha.
Controlar o barulho com você é sempre um refúgio. Por favor, não demore <3